Publicado às 22h08
Operação
foi realizada na segunda-feira (31/03) e contou com a participação do MPT-RJ,
Ministério do Trabalho e Emprego e Polícia Federal
Na última segunda-feira
(31/03), o Ministério Público do Trabalho no Rio de Janeiro (MPT-RJ), em
operação conjunta com a Superintendência Regional do Trabalho e a Polícia
Federal, resgatou oito trabalhadores venezuelanos que estavam submetidos a
condições análogas à escravidão durante a reforma de suítes do Motel Chocolate,
em Realengo, na Zona Oeste do Rio.
As vítimas chegaram ao Brasil,
aliciadas por um intermediário do contratante ainda na Venezuela, com a
promessa de trabalho no Rio de Janeiro. Foram recrutadas para trabalhar na obra
como pedreiros e serventes, com a expectativa de uma remuneração superior à
que, de fato, foi paga.
De acordo com a procuradora do
Trabalho Guadalupe Couto e os auditores-fiscais do Trabalho Márcio Lins e
Miguel Nin, além de não receberem integralmente os valores prometidos, os
trabalhadores foram forçados a acumular dívidas com o empregador. Os custos das
passagens aéreas de ida e volta, bem como das ferramentas necessárias para a
execução do serviço, seriam descontados do pagamento final.
As autoridades constataram
ainda que não havia qualquer vínculo de emprego formalizado. Os trabalhadores
estavam alojados em três quartos do próprio motel, seis dormindo juntos em
camas de casal e dois no chão, em condições degradantes, sem qualquer orientação
quanto ao uso de Equipamentos de Proteção Individual (EPIs).
Um dos trabalhadores
resgatados, que concedeu entrevista à equipe de comunicação do MPT sob
anonimato, relatou o sentimento de impotência diante da situação. “Foi
oferecido um emprego para mim, mas quando cheguei aqui percebi que as demandas
eram muito maiores. Fiquei com medo de reivindicar meus direitos, porque
poderia acabar sendo colocado na rua, sem trabalho e sem moradia”, disse.
Segundo o MPT-RJ, além da
servidão por dívida, a remuneração prometida pelo empregador era inferior ao
piso previsto para os trabalhadores da construção civil no Brasil. O que
evidencia uma prática recorrente de empresas que se aproveitam da vulnerabilidade
dos imigrantes para reduzir os custos da mão de obra, por meio da sonegação de
direitos trabalhistas assegurados a brasileiros e não-nacionais.
Na manhã de quinta-feira
(03/04), os trabalhadores compareceram à sede do MPT-RJ para prestarem
depoimentos. No ato do resgate pelas autoridades trabalhistas, os trabalhadores
foram acolhidos e atendidos pela equipe do Projeto Ação Integrada (ProjAi). Projeto,
esse, desenvolvido pelo MPT em parceria com a Cáritas Arquidiocesana.
A Empresa responsável pela
exploração desses trabalhadores imigrantes firmou Termo de Ajustamento de
Conduta (TAC) perante o MPT, onde ficou estabelecido o pagamento do valor de
R$7 mil de verbas trabalhistas, mais R$12 mil a título de dano moral individual,
além das passagens de aéreas e terrestres para o retorno aos respectivos
endereços residenciais na Venezuela.
"O setor da construção
civil tem crescido visivelmente nos últimos anos e, considerando a
possibilidade de contratar mão de obra mais barata, empreiteiros acabam
trazendo trabalhadores de outras nacionalidades para o Brasil em situação
irregular, com o intuito de explorá-los, desrespeitando seus direitos
trabalhistas. É preciso deixar claro que os direitos trabalhistas assegurados
aos trabalhadores brasileiros são, igualmente, devidos aos não-nacionais. Além
disso, o imigrante, que vem para trabalhar no Brasil precisa ingressar no País
com o visto específico de trabalho, devendo o vínculo de emprego ser
considerado desde a saída do trabalhador da origem, não podendo haver desconto
da remuneração acertada das despesas de deslocamento e de alimentação até o local
da prestação de serviços.", destacou a procuradora.
Ascom
/ Ministério Público do Trabalho no Rio de Janeiro (MPT-RJ)
0 Comentários
As opiniões aqui feitas por internautas não refletem necessariamente a opinião do Blog Paulo Roberto News.