Clube de Saquarema que estreará na seletiva do Carioca tem estrutura de invejar grandes do futebol brasileiro

 Publicado em 12/01/2021 ás 20h41


Foto acima: Estádio Lourival de Gomes Almeida. Créditos: Léo Borges 


Matéria de Tébaro Schmidt, do Globo Esporte, apresenta o estreante na seletiva do Carioca


A chamada Seletiva, fase preliminar do Campeonato Carioca que começa a ser disputada já no próximo fim de semana, terá uma cara nova em 2021: o Sampaio Corrêa, clube que completa 15 anos de fundação em fevereiro. O atual vice-campeão da Série B1 vai brigar com América, Americano, Cabofriense, Friburguense e Nova Iguaçu pela vaga na fase principal - essa, sim, com os grandes e todos os clubes que fazem parte da elite do futebol do Rio.


Embora tenha idade de adolescente, o novato do Carioca é conhecido principalmente pela gestão que nunca deixou atrasar um salário sequer e pela estrutura de dar inveja a muita gente que está sendo construída no Tinguí, bairro de Sampaio Corrêa, por sua vez um distrito de Saquarema. Por lá já funcionam o estádio próprio com capacidade para 3 mil pessoas e o centro de treinamento com dois campos, alojamento para os atletas e tudo que se tem direito.


Salário de 15 em 15 dias


O pagamento dos salários no Sampaio Corrêa é feito quinzenalmente. Dessa forma, se o jogador ganha R$ 1 mil mensais, ele recebe R$ 500 no início do mês e os outros R$ 500 duas semanas depois. Presidente do clube, Rômulo Gomes afirma que os jogadores preferem ser pagos dessa maneira, pois assim evitam pedir vales durante o mês: "Normalmente o cara tira o salário no dia 5 e rapidinho já acaba, aí depois fica pedindo vale de R$ 200, R$300. Nós pagamos assim justamente para evitar isso".


Rômulo garante que nunca atrasou um salário sequer no clube. Nem mesmo em 2011, quando precisou montar em 15 dias um time para jogar a Série B1, assim às pressas. Na ocasião, por conta da construção do estádio, o clube havia pedido licença à Federação do Rio alegando dificuldades financeiras, mas uma portaria publicada às vésperas da competição definiu que a equipe que desistisse da disputa seria automaticamente rebaixada para a Terceira Divisão.


- Tive que vender o meu carro, mas graças a Deus não caímos. E nem assim nós atrasamos os salários - se orgulha.


Tem estádio próprio


O Estádio Lourival Gomes de Almeida é a menina dos olhos do Sampaio Corrêa. Foi oficialmente fundado em 2010, mas só passou a receber público em 2013. E sua capacidade máxima é de até 3 mil pessoas, embora o aval dos Bombeiros no momento seja para apenas 1.800.


O nome do estádio é uma homenagem ao deputado federal e patriarca da família Gomes. Lourival também é o presidente de honra do clube, mas deixa a responsabilidade de tocar o dia a dia da equipe na mão dos quatro filhos: Rômulo, Ronan, Rôger e Ruan.


Desde sua inauguração, o estádio está em constante melhoria. As mais recentes delas foram a instalação de aparelhos de ar condicionado nos vestiários das equipes e da arbitragem e o reforço no cabeamento da internet, que há até pouco tempo era um problema no local por se tratar de uma área rural afastada cerca de meia hora do centro de Saquarema.


Centro de treinamento completo

Outro orgulho do Sampaio Corrêa é o Centro de Treinamento Ninho do Galo, localizado no mesmo terreno do estádio. Na verdade foi construído ali um enorme complexo esportivo para servir de casa para o clube, de modo que jogadores e comissão técnica não precisam sair para nada. Foi construído recentemente uma clínica de departamento médico, e o Sampaio há pouco tempo também terminou de equipar sua academia - dessa maneira, os jogadores não precisam mais se deslocar até o distrito de Bacaxá para malhar.


O CT conta com dois campos de treinamento com medidas oficiais (105x70), piscina, salão de jogos e alojamentos climatizados com capacidade para até 30 jogadores e mais os membros da comissão técnica. O plano para os próximos anos é fazer mais dois campos (um com medidas reduzidas e outro com 105x70) e construir um complexo de chalés no topo da colina do terreno para poder hospedar também os atletas dos juniores ou, quem sabe, oferecer o local para que clubes e seleções façam suas pré-temporadas.

Centro de Treinamento Ninho do Galo, do Sampaio Corrêa: no detalhe está o alojamento dos jogadores, com o salão de jogos à direita — Foto: Léo Borges



Maior venda rendeu um ônibus ao clube


O Sampaio Corrêa historicamente detém o passe de poucos jogadores, o que é hábito para a maioria dos times pequenos. De temporada em temporada o clube costuma manter a base de um time titular e completar o elenco por meio de empréstimos, parcerias e "política de boa vizinhança", como define Rômulo. Portanto, é difícil vender jogadores e de fato lucrar com isso.


A maior venda do clube até hoje foi a de Rodrigo Souza, volante que surgiu naquele time do Sampaio montado às pressas em 2011. Em seguida ele foi emprestado a Madureira, Nova Iguaçu e em 2013 se destacou atuando pelo Boa Esporte, a ponto de despertar interesse do Cruzeiro. Antes de vendê-lo à Raposa, no entanto, o Boa precisou acertar as contas com o Sampaio, que ganhou um ônibus nessa negociação - além da participação em vendas futuras, o que acabou não rendendo muito porque Rodrigo passou despercebido pelo Cruzeiro e perambulou por equipes pequenas até parar no São Bernardo, onde está atualmente.

Ônibus do Sampaio Corrêa foi fruto da negociação de Rodrigo Souza com o Boa Esporte — Foto: Léo Borges



Clube-empresa antes de virar modinha


O Sampaio Corrêa funciona sob o regimento de clube-empresa desde a sua fundação. Ou seja, em vez de uma associação civil sem fins lucrativos, o Sampaio é uma empresa que visa o lucro por meio da prática esportiva. Todas as despesas são da família Gomes, que além de atuante na vida política também possui uma rede de supermercados que estampa o espaço de patrocínio master da camisa.


- Os gastos são a família aqui mesmo que paga. Meu irmão dá um pouco, meu outro irmão, meu pai, a gente faz um rateio e divide as despesas. A sogra do meu irmão também ajuda. Se der R$ 30 mil de gastos extras por mês, a gente divide R$ 4, 5 mil para cada um - explicou Rômulo, eleito recentemente o vice-prefeito de Saquarema.


Presidente-atacante é a cara do clube


Rômulo, Rômulo, Rômulo... A cara do Sampaio Corrêa é Rômulo Gomes, é impossível desvencilhá-los. Mas, afinal, o que ele faz no clube? Embora seja definido como o presidente, o presidente de fato, no papel, é seu irmão Ronan. Ele não tem cargo estabelecido na diretoria, mas é quem procura estar no centro de treinamento todos os dias, quem viaja para todos os jogos e quem responde pelos problemas.


Rômulo Gomes em ação pelo Sampaio Corrêa no jogo-treino mais recente da equipe — Foto: Léo Borges



Rômulo também é o atacante do time. Está inscrito nas competições e pode ser acionado pelo treinador a qualquer momento, embora sua última partida oficial tenha sido ainda em 2019 - em 2020 ele se dedicou à sua campanha política. Aos 40 anos, ele é o maior artilheiro da história do clube, com 98 gols. E torce pela classificação para a fase principal do Carioca este ano para tentar chegar ao centésimo e, quem sabe, pendurar de vez as chuteiras em um jogo de Série A.


- Hoje, por exemplo, treinei de manhã com os caras, depois fui embora e agora à tarde não vou porque tenho meus compromissos. Mas fico ali ajudando, porque também não quero atrapalhar a parte técnica do time. Só que eu sempre vou à academia, procuro estar no mesmo nível dos caras. Apesar da idade, eu me sinto bem. Só que respeito os jogadores porque são mais novos e estão 100% dedicados àquilo - explica ele.


- Mas é claro que quero entrar na Série A. Eu treino igual os caras, estou treinando bem. Temos muito bons atacantes, mas estou disposto a ajudar. Se precisar de mim, meu time pode contar comigo - conclui ele.



Fonte: Tébaro Schmidt, globoesporte.com 



Postar um comentário

0 Comentários