Publicado às 18h46
A morte do turista gaúcho
Jorge Alex Duarte, de 54 anos, no Cristo Redentor, no último domingo (16/03),
trouxe à tona a falta de estrutura para atendimentos de emergência em um dos
principais cartões-postais do Brasil. Ele sofreu um infarto fulminante logo
após subir parte da escadaria do monumento, mas não havia socorristas nem um
desfibrilador disponível no local. Para o cardiologista e professor do Curso de
Medicina da Unig, Jorge Ferreira, o equipamento poderia ter feito toda a
diferença no desfecho da tragédia.
"O desfibrilador é o
principal aparelho que precisa estar disponível em casos de parada cardíaca.
Ele funciona como um relógio da sobrevida: a cada minuto sem atendimento, as
chances de sobrevivência diminuem. Se o paciente tiver um ritmo chocável (quando
é necessário um choque elétrico para voltar à normalidade), o desfibrilador
pode aumentar significativamente as chances de salvá-lo",
explica o médico, que também é coordenador do Laboratório de Habilidades
Médicas e Simulação (LHS) da universidade.
Jorge Ferreira reforça que os
desfibriladores automáticos são fabricados de forma que possam ser usados por
qualquer pessoa, mesmo sem treinamento prévio. "Você só precisa
seguir as instruções do aparelho. Ele orienta sobre o posicionamento dos
eletrodos, a necessidade de massagem cardíaca e, se for o caso, aplica o
choque. Isso poderia ter aumentado significativamente as chances de o turista
ter sobrevivido", esclarece o cardiologista.
Esforço físico pode ser
gatilho
O especialista também alerta
que o esforço físico intenso pode ser um gatilho para infartos em pessoas com
fatores de risco. "A subida de escadas é um exercício de moderado a
intenso. Se a pessoa é sedentária ou tem alguma doença cardíaca sem saber, isso
pode provocar uma arritmia e levar à parada cardíaca. No vídeo do ocorrido,
vemos que o turista não passa mal no início da escada, mas logo após o último
degrau. Ele encosta e logo depois ele cai, o que sugere um quadro desse
tipo", analisa Jorge Ferreira.
Além da ausência do
equipamento, não havia socorristas no Cristo Redentor para realizar os
primeiros atendimentos. "O ideal seria que o local tivesse uma equipe de
suporte básico de vida. Não precisa ser um médico de plantão, mas socorristas
treinados já fariam uma diferença enorme. O atendimento imediato poderia ter
mudado completamente o desfecho desse caso. É provável que ele tivesse
uma doença cardíaca prévia que evoluiu ali para um evento de arritmia que gerou
a parada cardíaca e a morte dele”, afirma o cardiologista.
A legislação brasileira já
determina a presença de desfibriladores em locais de grande circulação, como
estádios e aeroportos. Em 2004, o zagueiro Serginho, do São Caetano, morreu
após sofrer uma parada cardiorrespiratória em campo. O caso levou o futebol
brasileiro a adotar o protocolo de ter desfibriladores e ambulâncias nos
estádios. No Rio, a Lei Municipal nº 7.259/2022 também faz a exigência e prevê
sanções em caso de descumprimento.
Alerta para evitar novos
casos
Mas, segundo Jorge Ferreira,
infelizmente a norma ainda não é amplamente aplicada em pontos turísticos,
embora a legislação, em geral, faça menção à necessidade do equipamento em
“locais de grande circulação de pessoas”. "Existe uma lei federal que exige
a presença do desfibrilador, mas não necessariamente de uma equipe médica. No
entanto, em locais como o Cristo Redentor, que exigem esforço físico dos
visitantes, ter um suporte mínimo deveria ser obrigatório",
ressalta.
O caso reforça um alerta: sem
infraestrutura adequada, outras vidas podem ser perdidas da mesma forma.
"Não dá para ignorar a importância da resposta rápida em eventos como
esse. É importante ter uma equipe de primeiro atendimento treinada e de posse
dos recursos necessários para agir, como um desfibrilador externo automático”,
explica Jorge Ferreira, acrescentando que a medida é fundamental também pela
imprevisibilidade desse tipo de ocorrência. “Hoje você consegue fazer exames e
reduzir em torno de 70% o risco de um evento agudo. Mas em 30% dos casos não há
o que fazer. Não há garantia de 100% de que os exames vão impedir um
infarto”.
Fonte:
Carla Rocha / Dona Comunicação Fotos: Freepik
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